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quarta-feira, 26 de setembro de 2012

A ESPERA...



Eu à noite esperava
Tardavas não vinhas
E a noite partia
E em branco ficava
Com raiva, com mágoa
Com alma partida
Com as culpas, desculpas
Da fome cansada
Eras tudo e eu nada
Numa noite passada em claro
O teu beijo calado não dado
Ficava na curva da estrada
Eu esperava  sentado, cansado
Da espera que a nada levava
Na minha cabeça
Cavalgada pensada
Meu  corpo escondia
Um sopro de vida
Entre minha pele ardia.
Minha espera…minha espera
Minha hora sem sorte
Esperar é uma sina
Minha bússola sem norte
Minha espera caminha
Desistir é pós os fracos
Permanecer é pós  fortes
E em meu peito nasce a morte.

Manuel Brália
Na tua ausência

Na tua ausência
Sou gente sem garra vontade impura
Sou alma já sem cura
Corpo sinistrado
Espírito vizinho da loucura
Da fé que a dor embala
O dia nasce em noite escura
Existo eu….
Meu corpo despejado ao abandono
Um cão perdido sem seu dono
Na medida entre a espada o amor a dor e o aço
Existo eu e o meu cansaço
E no meu peito um louco desvairado, enjaulado
A bater fatigado se obriga.
Na tua ausência…
Caminho arrastado triste vida
Amigo do pecado enraivecido
Meus olhos vagos tristes e calados
Olhos que se colam ao vazio
Meu pranto derramado em cama fria
Meu ser, assaltado mãos vazias
Na  cinzenta caminhada dos meus dias
Sem prazer e comedido
Sem chão sem fundo sem riso
Do círculo espaçado dos teus passos
Distancia entristecida dos teus braços
Na tua ausência…existo como sombra.

Manuel Brália

Num sorriso



Num sorriso

Foi com um sorriso que te conheci
E continuei sorrindo
Como se nesse sorriso eu fosse infinitamente feliz
Como se eu estivesse de novo de volta a casa
Tal como filho volta da Guerra.
Foi sem dúvida nesse sorriso
Que eu me encontrei
E tive a certeza de ser feliz
Um sorriso que me ofuscava
E iluminando…
E fui menino outra vez
Com esse sorriso brinquei nas poças
Com barcos de papel e naveguei, corri, saltei
E fui adolescente sonhador
Vivendo amores impossíveis
No anseio da improvável correspondência
E cheguei ao fim do dia ainda sorrindo
Desejando rápido adormecer para voltar para esse sorriso
Sem esse sorriso podia morrer
Com esse sorriso morria sorrindo
Um sorriso que me faz viver.

Manuel Brália







O nosso beijo

Começa suave terno, doce e curioso
Nossas bocas vacilantes,
Nossas línguas…
Actores em palco sem texto,
Que se alimentam do improviso,
Numa dança de emoções consentida,
Meu beijo….já teu também
Onde no principio da minha boca
Começa a tua
E na superfície liquida do meu sonho,
Está o teu também.
Inventamos o momento
Bocas silenciosas
Falam em pensamento
Dois corpos ligados por duas bocas
Que gritam em silencio
No bailado cósmico das nossas almas
Onde eu e tu deliciosamente nos entretemos
Na cambaleante busca de nos entender mos
Mergulho no escuro palpitante
Onde fervilham pensamentos incandescentes
No espaço do nosso beijo 
Cabe uma viagem sem volta.

 Manuel Brália






NÃO TENHO PRESSA

·
Não tenho pressa.
Não tenho pressa de chegar a todos os lugares
onde no passado cheguei apressado.
Não tenho pressa de ver o futuro que me está reservado.
Porque sei que o tempo não se ganha nem se apressa.
Não tenho pressa de me encontrar
Porque sei que a seguir me vou perder novamente.
Não tenho pressa de encontrar o amor
Porque por ele já fui encontrado e também
o encontrei e não o soube preservar.
Não tenho pressa de ser feliz
Porque sei que a felicidade é um caminho e não uma meta.
Não tenho pressa.
Embora tudo me pareça urgente
não tenho pressa...

Manuel Brália

O AMOR


O amor estava triste
e calado
e olhava os próprios pés
enquanto chutava pedras soltas pelo chão.
O amor pensava
e remoía o pensamento
querendo só saber
qual a razão de não poder amar.
E o amor olha o céu e a lua
e baixando os olhos via estrelas
dançando na superfície d’água.
E o amor imaginava
um dia poder amar e assim dançar
na superfície de um sonho.
A dor seguia o amor
e calado e cabisbaixo
bebia as lágrimas do desamor.
Então uma dia
o amor olhou ao longe
e vislumbrou silhueta
azulescente  efervescente
de uma mulher.
Aproximou-se
rodopiou
sentiu o cheiro
afagou os cabelos
sentiu a pele numa carícia
olhou nos  olhos
sentiu se dois e o amor sorriu e amou!
 
Manuel Brália







Alguma coisa

Alguma coisa onde tu parada
fosses depois das lágrimas uma ilha,
e eu chegasse para dizer-te sorri
de repente apontava-te a vidraça da janela.

alguma coisa onde a tua mão
escrevesse cartas para chover
e eu partisse a fumar
e o fumo fosse para se ler

alguma coisa onde tu ao norte
beijasses nos olhos os navios
e eu rasgasse o teu retrato
para vê-Io passar na direcção dos rios

alguma coisa para onde tu corresses
numa rua com portas para o mar
e eu se fosse preciso morresse
para ouvir-te sonhar.
M.B






Foge comigo


foge comigo,
para um lugar qualquer
onde os abraços dão razão ao nosso viver
encosto onde fico
beijos de embalar.
Foge comigo
onde o perfeito oasis
nós e o vazio nos espera.
Apenas porque quando nos sentimos
o mundo não interessa
e tudo se passa dentro de nós
foge comigo
onde o teu olhar obriga
e o beijo não se pede
Apenas hoje, foge comigo
para onde o barulho somos nós
e onde dois corpos vestidos de exaustão
se colam numa pele de cansaço liquido
Foge...vem
para onde as palavras se intrometem
e pouco importa o que elas dizem
 falamos a linguagem do desejo.

Manuel Brália







HÁ PALAVRAS…

Há palavras que nos abrem os céus
Que falam do nós de dentro,
E nos desenham,
E trazem um mar de sangue,
Poços de lágrimas faladas,
São palavras…apenas palavras
Apertam-nos
Comovem-nos
Despem-nos
Tímidos nós precisa-mos delas para voar.

M.Brália






Hoje não sei nada!


estarei um pouco esquecido?


esqueci o ontem e o anteontem...para que não fossem eles a esquecerem-se de mim...


assim vingo-me do tempo...e recuso-me a envelhecer porque nada sei e de nada me lembro


apenas voo nas assas de um pombo e percorro velhas casas devolutas e monumentos envelhecidos que o tempo deixou para trás

Certos recantos da cidade quase me faz lembrar outras idades mas eu não me lembro recuso-me a ter memórias

Eu as devolutas casas os monumentos antigos, somos coisas esquecidas eu porque me esqueço eles porque foram esquecidos.

                                                                  Manuel Brália







Vivendo no instante

Vivendo no instante
Naquele que me foi confinado,
Naquele em que ainda existo,
E sinto-me tão pequeno,
Tão insignificante,
Tão invisivelmente mesquinho,
Pó de estrelas, pó do futuro…
Que chega e passa num instante.

Manuel Brália







Duas partes do mesmo.

Somos dois pedaços do mesmo papel rasgados,
Dois amantes condenados,
Separados!...sempre separados,
Em camas e quartos, adiados.
 À hora marcada em nada atrasados,
Apenas pela mente ligados,
Dois anjos de branco caiados
Livres parecem donos de si,
Mas tão tristemente um do outro abandonados,
À sombra da espera sentados.
Resta-nos pedir tudo, e de todo o pouco aceitar
Com apetite de faminta fome e a humildade da esmola concedida.
Condensar-mos os meses os anos num só dia,
Eternizar-nos em instantes,
 Recarregar-nos na exaustão dos nossos corpos
E esperar…esperar que mais dias nos tragam ás costas
E nos juntem outra vez.

Manuel Brália


NÃO TENHO PRESSA



Não tenho pressa.
Não tenho pressa de chegar a todos os lugares
onde no passado cheguei apressado.
Não tenho pressa de ver o futuro que me está reservado.
Porque sei que o tempo não se ganha nem se apressa.
Não tenho pressa de me encontrar
Porque sei que a seguir me vou perder novamente.
Não tenho pressa de encontrar o amor
Porque por ele já fui encontrado e também
o encontrei e não o soube preservar.
Não tenho pressa de ser feliz
Porque sei que a felicidade é um caminho e não uma meta.
Não tenho pressa.
Embora tudo me pareça urgente
não tenho pressa...

Manuel Brália

terça-feira, 31 de maio de 2011

MÁSCARA



Sou a vítima legítima
dos meus erros.
Corpo ausente-presente
nos enterros.
Orgulho no entulho
dos aterros.

Sou o choque remoque
dos aflitos.
Raiz, seiva, na leiva
dos conflitos.
Discordância e ganância
dos proscritos.

Sou maldita conquista
da ciência.
O juízo impreciso
na demência.
A gula que regula
a abstinência.

Sou repulsa convulsa
dos escravos.
A surpresa-fraqueza
dos bravos.
O corpo exangue
de alguns cravos.

Sou a injúria: luxúria
antecedida.
Uma atitude rude
inadmitida.
Dignidade e bondade
apetecida.

Sou a vitória inglória
da chantagem.
O começo-arremesso
de coragem.
A meta incompleta
duma viagem...

Sou tudo o que não quero:
os átomos que vão
dum zero a outro zero...
o traço de união
entre a Génese e o Fim.

... E sabendo-me assim,
bebo o receio e o medo
sem disfarce,
da matéria diluída,
no fóssil de um segredo...

... E sinto a carne e a vida
a esboroarem-se
na sombra de mim mesmo!
M.B

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Se partires...



Se partires...
Se partires parte decidida irrompe pelo mundo e vence.
Se voltares volta serena e doce e com alma limpa.
Trás as historias que te pintaram os olhos e sabem explicar as rugas na tua pele.
Mostra-me os mundos onde estiveste e as fontes de onde bebeste.
Para que o teu silêncio me fale cada vez mais
Para que o verdadeiro eu não se consiga esconder do teu olhar.
Eu ficarei aqui...no mesmo lugar de sempre.
Como uma árvore que enterra anos nas suas raízes e sabe ler as estações.
Aguardo aqui de abraços abertos como ramos a acariciar um ninho de felicidade.

M.Brália

sábado, 27 de novembro de 2010

Parar o tempo



Se pudesse parar
neste instante a minha vida,
fotografar com a minha retina
este belo momento,
ficaria para sempre
gravado em minha mente
como as pinceladas de óleo
eternizadas sobre a tela
por um pintor,
que assim que expostas
desafiam o compasso do tempo.
Se o meu olfacto
pudesse captar o aroma
de cada sensação
vivida intensamente
e absorvido pelos pulmões,
oxigenaria todo o meu corpo
com essa preciosa energia.
Se o relógio, parasse as suas agulhas
e deixasse de marcar horas,
seria eternamente feliz.
Mas não posso parar o tempo
e o relógio não deixa de marcar as horas
por isso sou feliz um pouco cada dia.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

NA TUA AUSÊNCIA

Na tua ausência
Derivo
Num barco sem rumo
Num mar tumultuoso
De duvidas e incertezas
Assolam-me fantasmas
Invade-me o medo.
Na tua ausência
Perco-me em pensamentos
De dor e angustia
Saio sem rumo
Irrompendo numa tempestade
De emoções e ansiedade
Em que o vazio me invade
E a esperança se perde.
Na tua ausência
Escuto vozes no silêncio
Em sussurros que se agigantam
Que de mim vais partir
Nas asas do vento
Que sopram em direcção
De outro alguém
Para quem voas
De braços abertos
Na tua ausência
Vejo-te em prados sorridente
Envolto em pura cumplicidade
Noutro olhar e noutro sorriso
Noutro abraço consentido
Desfrutando da sua intimidade
Vejo-te noutro corpo fundido
Em carícias e prazer
Na tua ausência
Torno-me no que não quero
Abomino meus pensamentos
Sou homem ciumento
Inseguro e vacilante
Onde não me basta
O papel de amante
E, por medo do meu querer
Deixo-me arrastar
Na incerteza do que estou a viver
Na tua ausência
Perco a razão
Já não sei quem sou
Nem tão pouco o que quero ser...
M.Brália

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Despeço-me...

Despeço-me hoje e pra sempre...
Dos presentes e dos ausentes,
dos maus e da boa gente,
dos dias e das noites,
dos gritos e dos risos,
dos amigos e dos inimigos,
dos amores e desamores,
dos bons e dos maus odores,
das estrumeiras e das flores,
da ventania e da calma,
do barulho e da cigarra,
do trabalho e da bela farra.
Despeço-me hoje e pra sempre...
Das loucas bebidas e da água,
da felicidade e da mágoa,
dos terrores e do amor,
do que gostava e detestava,
do que amava e odiava,
das chegadas das partidas,
das viagens boas e das sofridas,
da porrada e do abraço,
do algodão e do aço,
do dormir do acordar,
de uma ave morta e do seu voar.
Despeço-me hoje e pra sempre...
Das estrelas e da escuridão,
dos que já foram e dos que estão,
do calor e do frio,
do cheio e do vazio,
do choro e do sorriso,
da paz e do vicio,
da sonolência e da clarividência,
da experiência e da incompetência,
da tua ausência e da tua presença,
do desencanto e do encanto.
Despeço-me hoje e pra sempre...
Da musica e do barulho,
do grave e do agudo,
de quem faz e de quem fala,
de quem protesta e de quem cala,
da gaveta e da mala,
da mentira e da verdade,
do feliz e da infelicidade,
da sorte e do azar,
do partir e do ficar,
do antipático e do simpático,
do simples do complicado.
Despeço-me hoje e pra sempre...
Do querido e do odiado,
do perdido e do achado, 
dos mares e dos prados,
dos infelizes e dos afortunados,
dos tristes e dos engraçados,
dos inteiros dos cortados,
dos beijos e dos estalos,
da palha e dos cardos,
de mim e dos outros,
de muitos e de poucos. 
Despeço-me hoje e pra sempre...
De tudo e de nada,
da manhã e da noite cerrada,
do interesse e da indiferença,
do diferente e da parecença,
da família dos estranhos,
do seco e do molhado,
do aberto do fechado,
do esforço e do descanso,
do preto e do branco,
do abraço e da facada,
do lençol e da mortalha,
do buraco e da muralha,
do silêncio e do barulho,
da vergonha e do orgulho,
do falador e do mudo,
do pequeníssimo e do mundo.
Despeço-me hoje e pra sempre...
Não paro sigo em frente.
                    Manuel Brália 

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

DESPEDIDA




Quero agora despedir-me da vida...
Quero sentir que não foi gasta, foi vivida,
Quero ver a ultima aurora, e saber que vou bem na minha hora,
Quero lembrar-me por instantes de pensamentos já distantes,
Quero ter coisas infinitamente perdidas, sonhos apagados e já ausentes.

Quero apenas despedir-me da vida...
Olha-la olhos nos olhos no seu ultimo fulgor,
Viver um último amor
Quero matar o desejo e a esperança,
Partir apenas com uma breve e leve lembrança

Quero agora despedir-me da vida…
Num ultimo aperto de paixão,
Obrigar-me a fazer vontades sem razão,
Olhar com olhos grandes algo pequeno que nunca tenha reparado,
Quero sentar-me à beira mar, ouvir as ondas
E talvez alguma ave que por lá passar.


M.B